Interpretação do poema " VERSOS ESCRITOS N’ÁGUA", de Manuel Bandeira

Exercícios de interpretação e compreensão de texto: poema  Versos escritos n’água, do escritor representante da primeira geração modernista brasileira, Manuel Bandeira.

VERSOS ESCRITOS N’ÁGUA

Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.
 
Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza...
 
Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.

(Cinza das horas, 1917.)
Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/manuel-bandeira/textos-escolhidos

Leia atentamente o poema "Versos Escritos N’Água" de Manuel Bandeira para responder às questões:

1. Na primeira estrofe, o eu lírico afirma que os poucos versos ali presentes substituem outros. Que efeito essa declaração inicial cria no leitor?

2. A quem o eu lírico se dirige diretamente na terceira linha? Qual convite ele faz a esse interlocutor?

3. O que a expressão "deixo ao teu sonho / Imaginar como serão" sugere sobre a natureza dos versos que não foram escritos?

4. De acordo com a segunda estrofe, o que o leitor poderá projetar nesses versos? Quais são as duas emoções específicas mencionadas?

5. A terceira linha da segunda estrofe ("Lhes acharás, tu que me lês,") reforça a relação entre o poeta e o leitor. Que papel é atribuído ao leitor na construção do significado do poema?

6. O eu lírico expressa uma possibilidade ("talvez") em relação ao que o leitor poderá encontrar nos versos. O que essa hesitação sugere sobre a percepção do poeta em relação à sua própria obra?

7. Qual é a reação daqueles que ouviram os versos, segundo a primeira linha da terceira estrofe? Que sentimento essa rejeição evoca no eu lírico, expresso na segunda linha?

8. A que o eu lírico se refere como "meus pobres versos comovidos"? O que a palavra "comovidos" sugere sobre a sua origem ou natureza?

9. Qual é o destino final desejado para esses versos? Onde eles devem ficar e por quê?

10. A metáfora central do poema é "Versos Escritos N’água". De que maneira essa imagem se relaciona com as ideias de transitoriedade, esquecimento e a maleabilidade da interpretação presentes no poema?

11. Explique a relação entre a ausência de descrição detalhada dos versos pelo poeta e a liberdade de imaginação concedida ao leitor.

12. Como a rejeição dos ouvintes influencia a decisão do eu lírico em relação ao destino de seus versos? O que essa decisão revela sobre a sua relação com a própria criação e com o público?

13. Compare a atitude do eu lírico em relação à sua poesia neste poema com a atitude expressa no poema "Desencanto". Há semelhanças ou diferenças significativas? Justifique sua resposta.



GABARITO:
1. A declaração inicial cria um efeito de curiosidade e incompletude no leitor. Ao afirmar que esses versos substituem outros não apresentados, o poeta desloca o foco da obra concreta para uma ausência, convidando o leitor a imaginar o que poderia ter sido dito.

2. O eu lírico se dirige diretamente ao leitor ("Tu que me lês"). Ele o convida a usar sua própria imaginação para conceber como seriam os outros versos que não foram escritos.

3. A metáfora sugere que os versos não escritos são fluidos, maleáveis e suscetíveis à interpretação individual, assim como os sonhos. Eles não possuem uma forma fixa definida pelo poeta, mas ganham contornos na mente de cada leitor.

4. O leitor poderá projetar nesses versos sua própria tristeza ou seu próprio júbilo. As duas emoções específicas mencionadas são polos opostos do espectro sentimental humano, indicando a abertura da obra à experiência emocional individual do leitor.

5. O papel atribuído ao leitor é o de co-criador do significado do poema. Ao ser convidado a imaginar e a encontrar suas próprias emoções e beleza nos versos, o leitor se torna ativo na construção da experiência estética.

6. A hesitação ("talvez") sugere uma incerteza ou uma modéstia do poeta em relação ao valor intrínseco de sua obra. Ele não impõe uma interpretação, mas abre a possibilidade de o leitor encontrar algo de belo, mesmo que essa beleza não seja uma qualidade objetiva dos versos em si.

7. Aqueles que ouviram os versos não os amaram. Essa rejeição evoca no eu lírico um sentimento de tristeza e compaixão por sua própria criação ("Meus pobres versos comovidos!").

8. O eu lírico se refere aos versos presentes no poema como "meus pobres versos comovidos". A palavra "comovidos" sugere que eles são carregados de emoção, talvez a própria tristeza do poeta diante da falta de reconhecimento ou da natureza efêmera de sua arte.

9. O destino final desejado para esses versos é o esquecimento, no lugar onde o "mau vento" os atirou. Essa imagem reforça a ideia de transitoriedade e de falta de valorização, como se a obra fosse levada e descartada pelas forças indiferentes do mundo.

10. A metáfora "Versos Escritos N’água" relaciona-se com a transitoriedade ao sugerir que a poesia pode ser efêmera, desaparecendo como palavras escritas na água. Liga-se ao esquecimento, pois o destino final desejado é o abandono. E conecta-se à maleabilidade da interpretação, pois assim como a água assume diferentes formas, os versos são abertos à projeção e à imaginação do leitor, sem uma forma fixa imposta pelo autor.

11. A ausência de descrição detalhada dos versos pelo poeta é fundamental para conceder total liberdade de imaginação ao leitor. Ao não definir o conteúdo ou a forma dos "outros" versos, o poeta abre um espaço para que cada leitor os construa em sua própria mente, com base em suas experiências e emoções.

12. A rejeição dos ouvintes leva o eu lírico a desejar o esquecimento para seus versos, como se a falta de apreciação retirasse deles qualquer valor ou propósito. Essa decisão revela uma relação de vulnerabilidade do poeta com sua criação e com o público, e uma aceitação melancólica da possível insignificância de sua arte.

13. Resposta pessoal - espera-se que o aluno compare a atitude de desapego e abertura à interpretação neste poema com a intensidade da dor e a necessidade de expressão em "Desencanto". Pode-se notar uma diferença na expectativa em relação ao público e ao destino da obra, enquanto ambos exploram a relação do poeta com sua criação e com o mundo).

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