Exercícios de Interpretação de Texto: Desencanto, de Manuel Bandeira
DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Teresópolis, 1912.
(Cinza das horas, 1917.)
(Cinza das horas, 1917.)
Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/manuel-bandeira/textos-escolhidos
Leia atentamente o poema "Desencanto" de Manuel Bandeira para responder às questões:
1. Na primeira estrofe, o eu lírico compara a sua produção poética a qual ação? Que sentimentos essa comparação sugere em relação à sua escrita?
2. O eu lírico dirige-se diretamente ao leitor. Qual é o pedido que ele faz e sob qual condição? O que essa solicitação revela sobre o estado emocional do poeta e a natureza de seus versos?
3. Identifique as metáforas utilizadas na segunda estrofe para descrever a natureza do seu verso. Explique o significado de cada uma delas.
4. A dor é apresentada de forma física ("Dói-me nas veias"). Como essa fisicalidade intensifica a expressão do sofrimento do eu lírico?
5. A imagem final da segunda estrofe ("Cai, gota a gota, do coração") sugere um processo lento e contínuo de quê? Relacione essa imagem com o sentimento de "desencanto" presente no título.
6. A expressão "versos de angústia rouca" reforça qual aspecto do estado emocional do eu lírico? Explique o sentido da palavra "rouca" nesse contexto.
7. A vida é comparada a algo que "corre dos lábios". Que ideia essa metáfora transmite sobre a experiência do eu lírico?
8. Qual o "acre sabor" que a vida deixa na boca do eu lírico, segundo o poema? Como esse sabor se relaciona com os sentimentos expressos anteriormente?
9. A última estrofe retoma a comparação inicial, intensificando-a. A que o eu lírico compara agora a sua produção poética?
10. Qual o impacto dessa comparação final na compreensão do sentimento de "desencanto" presente no poema? O que essa estrofe sugere sobre a relação entre a escrita e a existência para o eu lírico?
11. Identifique os principais sentimentos expressos ao longo do poema. Como eles se relacionam com o título "Desencanto"?
12. Manuel Bandeira é conhecido por sua linguagem direta e pela exploração de temas ligados à melancolia e à fragilidade da vida. De que maneira esses elementos se manifestam no poema "Desencanto"?
13. Discuta a possível interpretação do ato de "fazer versos" como uma forma de lidar com a dor e o sofrimento para o eu lírico.
14. Compare a imagem da escrita presente neste poema com outras visões da poesia que você conhece. Há semelhanças ou diferenças significativas? Justifique sua resposta.
GABARITO
1. O eu lírico compara a sua produção poética ao ato de chorar. Essa comparação sugere que a escrita é uma expressão de profunda tristeza, desalento e sofrimento, assim como o choro é uma manifestação física da dor emocional.
2. O pedido é para que o leitor feche o livro caso não tenha um motivo para sentir tristeza naquele momento. Essa solicitação revela que os versos são carregados de dor e que a leitura pode ser impactante para quem não compartilha de um estado emocional semelhante. Sugere que a poesia, para o eu lírico, é intrinsecamente ligada ao pranto e ao sofrimento.
3.
- Sangue: Metaforicamente, representa a própria vida, a essência vital do poeta, a dor visceral que alimenta a sua escrita;
- Volúpia ardente: Sugere uma intensidade passional, talvez uma ânsia dolorosa ou um desejo insatisfeito que se manifesta nos versos;
- Tristeza esparsa: Indica uma dor difusa, que se espalha e permeia a sua existência e, consequentemente, a sua poesia;
- Remorso vão: Refere-se a um arrependimento inútil, que não traz alívio, apenas intensifica a sensação de vazio e desilusão presente nos versos.
4. A fisicalidade da dor ("Dói-me nas veias") intensifica a expressão do sofrimento, tornando-o palpável e real para o leitor. Não é apenas uma dor emocional abstrata, mas algo que afeta o corpo do poeta, sublinhando a profundidade e a intensidade do seu estado.
5. A imagem de "Cai, gota a gota, do coração" sugere um processo lento e contínuo de sofrimento, de perda da vitalidade e da esperança. Cada verso, cada palavra, é como uma gota de dor que emana do centro do seu ser. Essa imagem se relaciona com o "desencanto" ao ilustrar a exaustão emocional e a sensação de que a própria vida se esvai em tristeza.
6. A expressão "versos de angústia rouca" reforça a intensidade e a dificuldade na expressão da dor. "Rouca" sugere uma voz embargada pelo sofrimento, quase sem força, indicando a profundidade da angústia que o poeta sente.
7. A metáfora da vida que "corre dos lábios" transmite a ideia de que a própria existência do eu lírico está se esvaindo, assim como as palavras escapam ao falar. Sugere uma sensação de finitude e de que a vida está perdendo seu vigor e sentido.
8. O "acre sabor" que a vida deixa na boca do eu lírico é o gosto amargo da desilusão, da frustração e da perda da doçura da existência. Esse sabor se relaciona com os sentimentos expressos anteriormente, como o desalento, o desencanto e a tristeza, como uma consequência inevitável dessas emoções.
9. A última estrofe retoma a comparação inicial, intensificando-a ao comparar a produção poética ao ato de morrer.
10. Essa comparação final eleva o sentimento de "desencanto" a um nível extremo, sugerindo que a escrita não é apenas uma expressão da dor, mas também um processo que se assemelha à própria morte, um esvaziamento da vida. Para o eu lírico, a poesia parece estar intrinsecamente ligada ao fim, à perda da vitalidade e à sensação de que a própria criação é um morrer lento.
11. Os principais sentimentos expressos ao longo do poema são a tristeza profunda, o desalento, o desencanto, a angústia, o sofrimento físico e emocional, a sensação de perda da vitalidade e uma certa proximidade com a morte. Todos esses sentimentos convergem para o título "Desencanto", que representa a perda da ilusão, da esperança e do encanto pela vida.
12. A linguagem direta de Bandeira se manifesta na simplicidade das comparações e na franqueza com que o eu lírico expõe sua dor. A melancolia é o tom dominante do poema, permeando cada verso com a sensação de tristeza e desilusão. A fragilidade da vida é sugerida pela comparação da escrita com o choro e a morte, indicando a vulnerabilidade do eu lírico diante do sofrimento.
13. O ato de "fazer versos" pode ser interpretado como uma forma de externalizar e dar vazão à dor e ao sofrimento, tornando-os tangíveis através da linguagem. Ao transformar a experiência interna em poesia, o eu lírico pode encontrar algum alívio ou, ao menos, uma forma de confrontar e compreender sua própria angústia. A escrita, nesse sentido, seria tanto um registro da dor quanto uma tentativa de processá-la.
14. Resposta pessoal - espera-se que o aluno compare a visão da poesia neste poema com outras que ele conhece, como a poesia como celebração da vida, como forma de engajamento social, como busca pela beleza estética, etc., justificando suas semelhanças e diferenças com elementos concretos.